Já faz incríveis 2 anos e 10
dias desde meu último post. Justifico-me dizendo que aquele calor ateu
militante em meu coração deu uma esfriada, mas não explica a ausência
De lá para cá, infelizmente,
li e estudei muito menos do que me propus. Dentre outros motivos estão minha
total dedicação à música e ao antigo namoro.
Bom, o que me trouxe de
volta então?
Sinto-me sendo cercado cada
vez mais, não exclusivamente nas redes sociais, por uma tendência cristã,
evangélica ou não. Como o simples assunto religioso me deixa com as orelhas em
pé, eu me atrevo a dizer que reparo mais nisso do que quem está no meio. E,
portanto, digo ver uma crescente religiosidade nas pessoas que antes não
demonstravam nada.
Da mesma forma como o
ateísmo resolveu sair do armário com o advento das redes sociais, através de
grandes grupos como a ATEA da qual compartilho um cauteloso interesse, ou de
relatos e outros blogs humorísticos e sérios sobre ateísmo; acho que as pessoas
religiosas também estão tomando partido e descendo do muro.
Com a propaganda evangélica
e cristã que temos hoje nos mais diversos meios, com políticos religiosos
fanáticos, lideres religiosos sem escrúpulos e a alta no “valor de mercado da
fé”, reparei que há um recondicionamento no significado de ter fé. Por mais que
nossos avós tenham vivido tempos bem mais restritivos, religiosamente falando, e
sempre demonstraram a religião em seu comportamento (do pedir a benção no bom
dia ao ouvir o “vai com deus” na boa noite) e embora nossos pais já tenham tido
um acesso levemente maior a outras crenças além do cristianismo e até mesmo
puderam ignorar a religião para todos os efeitos, vejo jovens como eu, que
nunca deram bola para nada tomarem um lado. Pessoas que sempre estiveram
alheios à religião, falando de deuses.
Como eu entendo isso?
Acredito, sem estudo nenhum,
que devido à banalização que os evangélicos trouxeram à religião fanática, os
pouco religiosos sentem-se pouco incômodos aos falarem das suas também. Por
banalização eu me refiro justamente a condição de ver o fanatismo cada vez mais
tolerado, promovido e incentivado pelos cristãos mais fervorosos (do evangélico
ou pentecostal, do adventista ao seguidor da igreja da esquina).
Tenho a impressão que antes
dessa banalização, a religião estava tomando, de maneira totalmente
involuntária e despercebida, uma posição de conforto no âmbito comum sem uma
implicação alegórica. A religião seguia bem lentamente um caminho para ser algo
mais pessoal e que seria talvez inofensiva em muitos aspectos. Porém, com o
crescimento do mercado da fé, o marketing impressionante e a entrada de adeptos
cada vez mais dedicados, a religião está, como por toda história, tomando para
si o âmbito social como uma força talvez não vista a décadas, séculos.
Nisso vejo, portanto, os que
são apenas religiosos “não praticantes”, menos religiosos ou até mesmo
indecisos, sentirem-se confortáveis em trazer esse lado religioso afora. Ou
pior, a necessidade de demonstrar que são crentes também. Enquanto, ao mesmo
tempo, se destacam da taxação de fanáticos, uma vez que tocam delicadamente o
assunto, apenas para pontuar sua opção, e não entram no mérito de pregar a
crença.
Pois bem, nos últimos 2 anos
e 10 dias eu adotei uma postura passiva, quase apagada, sobre o meu papel como
ateu. Resumindo-o a não crer (óbvio), estudar sempre que possível e ignorar as
discussões, deixei de lado a militância. Hoje volto a me questionar sobre o que
eu deveria estar fazendo. No medo de me tornar um ateu fundamentalista, me
tornei um ateu a toa e vi as coisas crescerem para os dois lados. O ateísmo nunca
esteve tão em evidência como hoje, da mesma forma que o fanatismo religioso.
Fiquei com preguiça de ouvir
sempre o mesmo discurso e ser o único a procurar novas abordagens para rebater
as crenças cegas, uma vez que crença não requer abordagem. Mas acho que vale a
intromissão, uma vez que existe um lado não ouvido, pouco representado e cheio
de tabus e mitos depreciadores.