quarta-feira, 4 de julho de 2012

Conceituando um deus

Após alguns debates com diversos tipos de opinião, vejo que o conceito da palavra “deus” e o que ela significa e, se posso assim dizer, demonstra, tem uma grande divergência entre as pessoas. Do design inteligente à metafísica a palavra e à ciência “deus” representa coisas diversas que podem não ter nada a ver entre si, mas todas tem uma forte ligação: “O Princípio de Tudo”. Salvo rara exceção, não interessa o que é “deus”, mas sim que ele/ela/isso é responsável pelo ponto de partida de tudo o que existe.

Bom, para mim esse ambiente comum está errado e, em um breve explicação, digo que um evento aleatório não pode ser denominado da mesma forma com um ser pensante criador. É por isso que existem denominações especificas para acontecimentos específicos. O Big Bang, apenas para exemplificar, teoria mais aceita do surgimento do universo, pode ser atribuída como sendo o evento Deus, então duas pessoas, uma criacionista e outra não, acreditam em deus, mas de maneiras completamente distantes uma da outra.

O que me fez querer definir a palavra “deus” é o meu post anterior (já razoavelmente datado e bem mal escrito) sobre o Bóson de Higgs, também conhecido como Partícula de Deus. Vejamos como essa aproximação, da explicação científica (existência ou não do Bóson de Higgs) para a resposta criacionista (apelido de “Partícula de Deus”), é perigosa, mas antes a minha conceituação breve.

Para definir a palavra “deus” preciso fertilizar o solo com alguns dos meus princípios e de certa forma eles são cíclicos.
1) Eu sou gnóstico, ou seja, acredito que seja possível provar a existência ou a inexistência de um deus.
2) Metafísica é filosofia sobre o desconhecido, ou seja, se não tenho uma resposta posso filosofar sobre o assunto.
3) Tudo que existe pode ser comprovado, ou seja, o “transcendental”, o “mítico”, o “milagroso” são meramente fruto da falta de repostas e deixarão esses patamares no momento em que forem comprovados ou rejeitados. E tudo que existe pode ser comprovado.

A definição: a palavra deus representa um ser, ou vários, pensante, com vontade própria, responsável pelo ponto de partida de toda a existência. Deus é o designner inteligente, deus é o responsável pelo design intencional e proposital. Este ser pode ou não ser responsável pela manutenção do universo e tudo que há nele, assim como apenas da vida na Terra e seu habitantes. Este ser pode tomar suas próprias decisões de forma proposital ou não. O importante do conceito é que ele é um ser pensante.
A negação: a palavra deus não é um evento de nenhum tipo.
*se eu me sentir mal compreendido, me reservo o direito de reformular os conceitos acima.

Portanto, eu, como ateu que sou, não acredito em um deus. Não acredito que um ser pensante que , intencionalmente ou não, propositalmente ou não, tenha sido responsável pela existência. Muito menos que este ser seja responsável pela manutenção de tudo que existe. E, como gnóstico, acredito que possa ser provado isso.

Então o que é perigoso nesse exemplo da “Partícula de Deus”? O Bóson de Higgs é uma partícula que explica o surgimento de toda a massa da matéria. Ou seja, de modo extremamente cru, seu apelido se dá devido à criação da massa da matéria a partir do nada. Mas essa partícula não é deus, essa partícula é um agente (Bóson de Higgs) em um evento (Criação da massa da matéria), totalmente aleatório, imprevisível, não intencional e não proposital. Portanto, chamá-la de partícula de deus apenas coloca mais um degrau (que surgiria naturalmente) na escada redutiva do tipo “se deus criou tudo, quem criou deus?”. E mais uma vez vamos cair na armadilha de que a ciência vai acabar explicando deus e não provando sua existência ou inexistência.

Portanto, não proponham que qualquer coisa, além de um ser pensante criador, seja taxado com qualquer relação a um deus.
Podemos nunca ter provas definitivas da inexistência de um deus, visto que a metafísica vai sempre estar a um passo transcendental além de todas as explicações, afinal, filosofar é a primeira forma de se procurar uma perguntar para tentar responder. Mas, se a ciência for tratada de forma puramente concreta, colocará a existência de um deus em cheque em todas as novas perguntas que vierem.

Afinal, se não foi um ser pensante criador que começou tudo, então foi um evento aleatório.

Ou nossa noção de tempo é apenas baseada na experiência própria de começo e fim que a possibilidade de uma existência cíclica parece loucura?
Tema para o próximo post? Existência Cíclica, Multiversos e mais!